A
primeira vez em que ouvi falar da expressão "hiato criativo", fiquei
toda confusa, querendo entender o que diabos um encontro vocálico tinha a ver
com a malfadada falta de inspiração. Só depois de um tempo fui saber o seu
significado, mas compreender em sua totalidade foi outra história.
Ou não.
Porque, no caso, foi justamente a falta de história o que ocasionou o meu
primeiro "bloqueio". Ah, palavras conhecidas e estranhas para
traduzirem o que aquela sensação de vazio e estufamento e excesso de ideias e
falta de meios e maneiras...
Ok, estou sendo confusa e prolixa.
Sabem aquela sensação de fome, quando o seu estômago acaba doendo tanto que o
apetite desaparece? Ou então quando você chega em casa muito cansado, depois de
ter enfrentado um dia atribulado no trabalho, mais horas intermináveis
estudando coisas que você sabe que vai esquecer assim que fizer a famigerada
prova final, e ainda ter suportado mais algum tempo no ônibus lotado, mas ainda
assim, quando chega o bendito momento de descanso, você simplesmente não
consegue dormir por estar exausto demais?
Pensei em escrever sobre a falta de sensibilidade humana, ou sobre crianças,
flores e brincadeiras de roda. Tracei roteiros para viagens fantásticas a universos além do infinito, procurando rotas que me levassem para as mais
inimagináveis fantasias. Sonhei com diálogos profundos e complexos, quando
pessoas distintas e complementares acabam por encontrarem a chave para o
extraordinário. Também pensei em escrever sobre amores irreais, quando amantes
prometidos descobrem que o destino não era tão inexorável assim e que paixões
são eternas até o momento em que a rotina mostra que outras coisas importam
mais em um relacionamento.
Ideias, planos, roteiros - os mais mirabolantes e fantasiosos, sem dúvidas -
levaram-me a madrugadas insones e devaneios avassaladores e dores de cabeça
(como seriam as dores de parto?); e eu mal partia de um ponto, porque ao me
deparar com meus livros favoritos, eu sabia da minha mediocridade e
insignificância perante os contos que têm embalado a minha existência.
(Escrito em 14/08/2008 e que tem definido tão bem a minha atual situação. Volta, Morgana, volta!)