Uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos tempos foi a indicação do musical "Once - Apenas uma vez". O filme/musical em si não tem nada de extraordinário: um músico de rua conhece uma mocinha e é basicamente o relacionamento entre os dois, suas vidas e a música. E é lindo e doce e fofo ao extremo. Ponto. Fiquei apaixonada pela trilha sonora (e pelo sotaque amor de todo mundo - irlandeses pra todos os lados!) de tal maneira, que passei o final de semana todo ouvindo. Tem uma pegada meio Mumford and Sons (que amo tanto!) e me deixa calma e relaxada demais. Super recomendado!
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
sábado, 16 de agosto de 2014
Inconsequência
I -
Ele soube que seria assim, logo no princípio.
Uma
loucura.
Porque
era insano pensar que logo no primeiro olhar as coisas mudariam tão
repentina e drasticamente em sua vida.
Diziam
que era o tal Amor, que finalmente o fisgara com suas garras
inexpugnáveis, mas ele julgava ser apenas uma ilusão, algo que não
duraria mais que uma estação. Volúvel - foi o que ele
considerou ser.
Poderia
dizer que fora o jeito espontâneo que o cativara, ou o sorriso
carismático, como quem carrega em si toda a vida e liberdade do
mundo. Não sabia dizer, pois também havia os olhos, fossem as íris
azuis ou negras ou cor de mel. Não, os olhares é que eram
luminosos. Doces e apimentados, algo de sensual e
descontraído, como quem não tem a intenção de seduzir.
Era obsessão.
Tal qual
um mortal dedica à dona de seus amores.
II -
Ele soube que seria assim, logo no princípio.
Inevitável.
A eterna
e ancestral atração. Tão poderosa quanto o mais primitivo desejo,
algo que ia além do seu poder de resistência tão logo provara do
seu beijo pela primeira vez.
E ele
descobriu que estava perdido.
Oh, tão
completa e deliciosamente perdido...
E sabia
ser o responsável por aquilo porque ele era o malvado lobo
que, com sua voz rouca e macia, a conquistou, a seduziu, a arrebatou.
Fora ele que, como o lobo que compartilhava de sua alma solitária, a
vigiou com seu olhar penetrante, pois não sabia como resistir àquela
fascinação.
Estava se
entregando.
Porque há
coisas que nascem para ser assim. Por toda a vida. Até a morte.
Porque amar é morrer um pouco por dia e somente renascer em virtude
da reciprocidade desse amor. Era, sim, uma loucura, mas existe algo
que seja assim, absolutamente racional?
Irracional,
era assim que ele se sentia. Tão perigoso quanto o lobo que
espreitava por detrás de seus olhos ambarinos.
Desesperado.
Que
fosse!
Novamente, era aquele instinto tão forte e arraigado e passional turvando-lhe a
racionalidade. Ele a desejava. Mais que tudo. E, oh céus... era
retribuído neste sentimento, nos sorrisos, nos olhares... e ele, que
se achava o caçador, quedou-se mudo em espanto e entrega: fora
subjugado pela intrépida ninfa de olhos brilhantes e sorrisos
matreiros e risada fácil.
III -
Ele soube que seria assim, logo no princípio.
Delírio.
No quarto
decrépito, apenas a luz incerta de uma chama iluminava o aposento.
Luz suficiente para ele ter a plena visão do que se negara a admitir
ser o objeto de seu amor.
Os dedos,
incertos a princípio, percorriam cada detalhe do corpo amado e
arrancavam gemidos e suspiros e promessas: ela era sua, sempre o
seria, até a morte.
E ele
morria mais um pouquinho por dentro e se entregava com o mesmo furor
que um guerreiro ante a sua última batalha.
Os lábios
deslizavam pela pele macia e perfumada, cheiro de frutas doces,
degustando aquela especiaria.
Como se
fosse a primeira e última vez. Porque seria sempre assim, com a
impetuosidade de uma tempestade de verão. Breve e refrescante,
carregando em si o poder da transformação.
Inconsequência
- era o que uma voz insistente teimava em lhe dizer, bem lá no
recanto mais obscuro de sua mente.
Sim, ele
o sabia, tinha consciência que a sua paixão condenaria a ambos tão implacavelmente quanto uma maldição de morte.
Era
letal.
Porque
quanto mais ele a amava, mais ele morria por dentro e necessitava do
amor dela para renascer outra vez.
IV -
Ele soube que seria assim, logo no princípio.
Verdadeiro.
Tão
breve e intenso e impetuoso quanto uma tempestade de verão. Com seus
aromas de doces frutas e suas constantes oscilações e sua
desesperada vontade de ser feliz.
Era
fatal.
E, no
momento derradeiro, veio a certeza de que a sua inconsequência
condenara a ambos. Por toda a eternidade.
Porque
ela prometera ser sua até a morte e para além dela.
E foi
assim que aconteceu.
(Estou me apropriando descaradamente das coisas da Morgana. Eu sei, é feio, mas ainda gosto muito deste texto, que recebeu uma pequena reformulação do original. Ideias estão começando a vir. Ainda tímidas, ainda vagas, mas estão vindo. Vem, Morgana, vem!)
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