Eu
leio porque não existe uma razão maior para isso.
Leio porque é vital para mim, porque faz com que minha miopia seja atenuada,
suavizada.
Leio por medo da ignorância, de permanecer no escuro que é a ordinariedade do
ser humano.
Contudo, ser não-ordinária não me faz feliz.
Porque eu me incomodo.
Eu me incomodo com o mundo, com as conversas vazias, com os pensamentos
aleatórios, com a mesquinhez da falta de interesse.
Eu ouço, mas não escuto os outros. Vejo, mas não enxergo algo que me interessa
verdadeiramente.
Eu apenas procuro ler, porque nas entrelinhas eu encontro a subjetividade
daquilo que tenho ansiado e continuo sem entender.
Eu dou graças aos céus toda vez em que paro para pensar no quanto sou estúpida,
burra mesmo.
Porque isso me incomoda. Enerva-me, me faz descontente.
A infelicidade nem sempre é ruim.
Assim como o seu oposto, é apenas um estado transitório. Tudo acaba passando:
momentos que se sucedem infinitamente.
Eu me frustro porque na maioria das vezes não compreendo as coisas que leio,
que vejo, que ouço, que sinto.
Dizem que frustrar-se é bom, porque o desamparo que a ignorância nos traz
impulsiona-nos em busca de um sentido.
Mas talvez o tal "sentido" não exista - as vozes sussurram, cruéis,
quando acabo por quedar-me irritada diante deste tipo de pensamento.
Porque isso não passa, nunca passa.
E isso me incomoda.
(21 de agosto de 2008)
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