Costuma-se
dizer que Lar é o lugar onde o coração vive. Mas há quem diga que
é a própria Casa que possui vida.
O
alvorecer, quando traz luz e calor para o recomeço do mundo,
preenche e renova a vida que pulsa em cada canto da Casa.
No
quarto de dormir, apenas o ressonar suave das cortinas modestas, que
se movem passivamente quando tocadas pela brisa matinal, quebra o
silêncio. O espelho na porta do guarda-roupa antigo reflete todos os
pequenos detalhes que foram cuidadosamente decorados ao longo dos
anos: pequenos bibelôs – lembranças de viagens e encontros e
agrados, a imagem da Virgem esculpida em barro e que sempre mantém
vigilância, a cama de Casal – sempre protetora e reconfortante, o
receptáculo dos sonhos de uma vida – um bilhete qualquer sobre a
mesinha de cabeceira, guardando uma mensagem que ficará preservada
até o fim dos tempos.
Assim
como seus habitantes, a Casa também desperta de seu sono reparador à
mesma hora. Gradativamente, cada cômodo parece espreguiçar-se e
ganhar ânimo novo e acordar para a Vida.
A
luz do Sol invade a sala de estar através da janela que vive
emperrada; e é como se a garotinha
do quadro protestasse por ter seus olhos desenhados perturbados pelas
réstias de luz. Os livros antigos parecem brigar por espaço na
estante abarrotada de coisas, como se o contraste entre novo e velho
fosse uma batalha diária. E existem também os resquícios das
pequenas travessuras infantis, que estão presentes nas marcas da
parede, meros lembretes de que a criança
ainda vive naquela Casa.
O
resto da Casa abandona a sonolência aconchegante quando o aroma da
primeira refeição do dia insinua-se por cada brecha. O som dos
utensílios domésticos e do movimento na cozinha misturam-se às
vozes murmuradas, quando a Casa e a Vida renovam-se para um novo dia.
(Jéssica
Oliveira – 18/09/2007)
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